Feliz dia das zumbis!
- Amor, o que você quer de presente?
- Dormir.
- Oi?!
- Sim. Dormir. Quero babar, roncar e sonhar. Tô com saudade até de ter pesadelo! De preferência, sem criança me dando joelhada na testa no meio da noite, ou me acordando aos prantos, como se a Adele tivesse morrido e reencarnado num gato rouco que engoliu um megafone.
- É só isso que você quer de dia das mães?
- E também de aniversário, Natal, Páscoa, Ano Novo ocidental, chinês e judaico e dia do amigo.
- Mas isso não vende em shopping!
- Tem certeza? Leva as crianças, procura bem, em todas as lojas da cidade. Assim eu aproveito e tiro uma boa soneca. De uns dois dias seguidos. Me acorda no almoço de domingo.
Essa cena não aconteceu comigo. Não exatamente assim. Mas poderia. Porque de todas as dificuldades que tive na maternidade, para mim a pior parte, disparado, foi o sono. Ou melhor, a falta dele. Me arrepio inteira só de lembrar quando minha vida parecia uma propaganda das Casas Bahia. De dia, dedicação total a você. E à noite, em dez vezes sem juros. Vivia em um relacionamento sério com a babá eletrônica. Era um personagem de desenho animado ambulante, com palitinhos de fósforo imaginários nos olhos. Andava pelas ruas correndo o risco de levar um tiro no meio das fuças, confundida com uma figurante do Walking Dead.
Sem sono não há bom humor, saúde, nem sanidade mental. Ficar sem dormir por dias, meses, talvez até anos (meu caso), tinha que servir como atenuante para crimes bárbaros, como mamar uma lata de leite condensado numa talagada só. O trânsito deveria se abrir à sua frente, como um Mar Vermelho. Chefes deviam dar aumento, lojistas tinham que oferecer descontos, vizinhos num raio de cinco quilômetros tinham que ficar um ano sem dar festas e as contas tinham que se pagar sozinhas. Para o bem geral da nação, acho que toda mãe nessa fase devia andar com uma camiseta com os dizeres: “Concorde com tudo que eu disser, estou sem dormir há meses.”
Mesmo quando os filhos já não são mais bebês (meu caso), tenho a impressão de que rola uma Mega Sena acumulada do sono. Talvez pela soma de todas as noites em claro. Talvez porque o dia a dia seja muito cansativo. Acorda seis da manhã pra levar na escola aqui, separa briga acolá, dá uns berros, dá banho, dá lanche, cata as mil micro peças da Polly no chão... (um beijo na mãe do sujeito que criou isso!). A função não para nunca! Não importa o quanto eu durma, sinto que tô sempre no cheque especial. Pra pagar essa dívida, só espetando o dedo numa roca e dormindo por cem anos. E, mesmo assim, se viesse um príncipe me acordar, é provável que tomasse uma bifa. Só mais cinco minutinhos!!!
Depois que a gente tem filho, o sono também não é mais aquele original, de fábrica. É um sono meio ching ling. Você até dorme. Mas é com um olho só. O outro está sempre meio aberto, para o caso de um pesadelo, alguém cair da cama, ser atacado pelo mosquito da zyka ou chegar tarde da balada. Não importa. A sensação é que depois que somos mães, o cérebro nunca mais desliga. Até sozinha em casa eu já levantei correndo no meio da noite, chutando a quina da cama, porque jurava ter ouvido o bebê chorar. E eu nem tinha mais bebê. Atire o primeiro travesseiro a amiga-mãe-caminhoneira que nunca foi até o berço de madrugada, só pra ver se o filho estava respirando.
Diante disso, nesse domingo, só posso desejar a todas que durmam. Durmam muito, durmam bem. O sono das justas. O sono daquelas que são capazes de passar noites e noites inteiras cochilando sentadas, só pro filho não tossir. O sono prêmio, relaxado, da sensação de dever cumprido, porque você dá a eles diariamente aquilo que tem de melhor. Inclusive suas noites bem dormidas. Se não conseguir agora, desejo que seja em breve. Porque essa fase zumbi uma hora vai passar. E quem é que precisa voltar a sonhar? Se o seu maior sonho tá ali, realizado, dormindo bem pertinho de você? Um beijo carinhoso nas olheiras de panda de cada uma. E feliz dia das mães!
Texto retirado da internet.
quinta-feira, 5 de maio de 2016
sábado, 23 de abril de 2016
Pisca Pisca
[…] A vida das gentes neste mundo, senhor Sabugo, é isso. Um rosário de piscados. Cada pisco é um dia. Pisca e mama, pisca e brinca, pisca e estuda, pisca e ama, pisca e cria filhos, pisca e geme os reumatismos, e por fim pisca pela última vez e morre. – E depois que morre?, perguntou o Visconde. – Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?”
~ Monteiro Lobato, em “Memórias de Emília” (1936)
~ Monteiro Lobato, em “Memórias de Emília” (1936)
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