quinta-feira, 5 de maio de 2016

Feliz dia das zumbis! Feliz dia das Mães.

Feliz dia das zumbis!

- Amor, o que você quer de presente?
- Dormir.
- Oi?!
- Sim. Dormir. Quero babar, roncar e sonhar. Tô com saudade até de ter pesadelo! De preferência, sem criança me dando joelhada na testa no meio da noite, ou me acordando aos prantos, como se a Adele tivesse morrido e reencarnado num gato rouco que engoliu um megafone.
- É só isso que você quer de dia das mães?
- E também de aniversário, Natal, Páscoa, Ano Novo ocidental, chinês e judaico e dia do amigo.
- Mas isso não vende em shopping!
- Tem certeza? Leva as crianças, procura bem, em todas as lojas da cidade. Assim eu aproveito e tiro uma boa soneca. De uns dois dias seguidos. Me acorda no almoço de domingo.

Essa cena não aconteceu comigo. Não exatamente assim. Mas poderia. Porque de todas as dificuldades que tive na maternidade, para mim a pior parte, disparado, foi o sono. Ou melhor, a falta dele. Me arrepio inteira só de lembrar quando minha vida parecia uma propaganda das Casas Bahia. De dia, dedicação total a você. E à noite, em dez vezes sem juros. Vivia em um relacionamento sério com a babá eletrônica. Era um personagem de desenho animado ambulante, com palitinhos de fósforo imaginários nos olhos. Andava pelas ruas correndo o risco de levar um tiro no meio das fuças, confundida com uma figurante do Walking Dead.

Sem sono não há bom humor, saúde, nem sanidade mental. Ficar sem dormir por dias, meses, talvez até anos (meu caso), tinha que servir como atenuante para crimes bárbaros, como mamar uma lata de leite condensado numa talagada só. O trânsito deveria se abrir à sua frente, como um Mar Vermelho. Chefes deviam dar aumento, lojistas tinham que oferecer descontos, vizinhos num raio de cinco quilômetros tinham que ficar um ano sem dar festas e as contas tinham que se pagar sozinhas. Para o bem geral da nação, acho que toda mãe nessa fase devia andar com uma camiseta com os dizeres: “Concorde com tudo que eu disser, estou sem dormir há meses.”

Mesmo quando os filhos já não são mais bebês (meu caso), tenho a impressão de que rola uma Mega Sena acumulada do sono. Talvez pela soma de todas as noites em claro. Talvez porque o dia a dia seja muito cansativo. Acorda seis da manhã pra levar na escola aqui, separa briga acolá, dá uns berros, dá banho, dá lanche, cata as mil micro peças da Polly no chão... (um beijo na mãe do sujeito que criou isso!). A função não para nunca! Não importa o quanto eu durma, sinto que tô sempre no cheque especial. Pra pagar essa dívida, só espetando o dedo numa roca e dormindo por cem anos. E, mesmo assim, se viesse um príncipe me acordar, é provável que tomasse uma bifa. Só mais cinco minutinhos!!!

Depois que a gente tem filho, o sono também não é mais aquele original, de fábrica. É um sono meio ching ling. Você até dorme. Mas é com um olho só. O outro está sempre meio aberto, para o caso de um pesadelo, alguém cair da cama, ser atacado pelo mosquito da zyka ou chegar tarde da balada. Não importa. A sensação é que depois que somos mães, o cérebro nunca mais desliga. Até sozinha em casa eu já levantei correndo no meio da noite, chutando a quina da cama, porque jurava ter ouvido o bebê chorar. E eu nem tinha mais bebê. Atire o primeiro travesseiro a amiga-mãe-caminhoneira que nunca foi até o berço de madrugada, só pra ver se o filho estava respirando.

Diante disso, nesse domingo, só posso desejar a todas que durmam. Durmam muito, durmam bem. O sono das justas. O sono daquelas que são capazes de passar noites e noites inteiras cochilando sentadas, só pro filho não tossir. O sono prêmio, relaxado, da sensação de dever cumprido, porque você dá a eles diariamente aquilo que tem de melhor. Inclusive suas noites bem dormidas. Se não conseguir agora, desejo que seja em breve. Porque essa fase zumbi uma hora vai passar. E quem é que precisa voltar a sonhar? Se o seu maior sonho tá ali, realizado, dormindo bem pertinho de você? Um beijo carinhoso nas olheiras de panda de cada uma. E feliz dia das mães!

Texto retirado da internet.

sábado, 23 de abril de 2016

Pisca Pisca

[…] A vida das gentes neste mundo, senhor Sabugo, é isso. Um rosário de piscados. Cada pisco é um dia. Pisca e mama, pisca e brinca, pisca e estuda, pisca e ama, pisca e cria filhos, pisca e geme os reumatismos, e por fim pisca pela última vez e morre. – E depois que morre?, perguntou o Visconde. – Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?”
~ Monteiro Lobato, em “Memórias de Emí­lia” (1936)

domingo, 4 de março de 2012

ALMAS GÊMEAS

ALMAS GÊMEAS

– Oi! Tudo bem?
– Tudo tranqüilo, e aí?
– Eu estava louca para conversar com você de novo, ontem nosso papo foi muito bom...
– É verdade, há um mês eu entrei no bate-papo meio por entrar e de repente...
– De repente?
– De repente, encontro uma Maria, com a qual sonhei a vida inteira.
– Verdade mesmo? Você está falando sério?
– Falando sério? Você nem imagina quanto! Nas nossas conversas rápidas, eu senti assim
uma premonição de que ali estava, finalmente, a minha alma gêmea.
– Agora você me deixou emocionada... Mas, na verdade, eu também senti uma coisa meio
diferente e hoje mais ainda, neste nosso início de bate-papo. Sabe de uma coisa, João? Até
parece que eu te conheço de uma vida inteira.
– E eu, Maria? Desde outras vidas, tamanha é a afinidade que eu sinto por você.
– Que bonito, João. Assim é covardia, esta batalha você ganhou.
– Ganhei nada, sou desde já refém da sua simpatia, seu jeito, sua forma de expressar...
– Obrigada, João.
– Nem agradeça, Maria. Vamos conversar mais, quero saber tudo de você. Quem é você?
– Adivinha, se gostas de mim...
– Quem é você, minha misteriosa?
– Eu sou Colombina.
– Eu sou Pierrot. Mas nem é carnaval, nem meu tempo passou. Bom, pelo menos depois de
você.
– É verdade, João. Deixando a música de lado, eu que já não sou tão menina, apesar de
estar me sentindo assim, quero que você saiba que a minha vida estava muito chata, muito
monótona até que o destino te colocou neste diálogo meio louco, meio mágico...
– Vamos fazer o jogo da verdade, Maria? Eu sou João, ou outro nome qualquer, tenho 45
anos, casado há muito tempo, sem filhos. Meu casamento entrou numa rotina...
– Eu também, João, estou casada há muito tempo, também sem filhos, achando que era
feliz, até te descobrir, e, principalmente, descobrir que estou viva. Apesar de também ter
passado dos quarenta, estou me sentindo uma colegial, diante das primeiras emoções.
– A minha esposa é boazinha, mas não tem a mínima imaginação, nem a tua sensibilidade.
Jamais seria capaz de um diálogo deste nível.
– O meu marido é honesto, trabalhador, mas é um tremendo cretino, só pensa em futebol.
– Eu até gosto de futebol, mas não sou muito fanático. A minha mulher só quer saber
daquelas novelas chatas, sempre do mesmo jeito.
– Eu quase que nem assisto novelas, prefiro ler e conversar. Com pessoas como você, é
claro!
– Pois é… este papo de internauta é gostoso, mas já não me satisfaz plenamente. Eu quero
te conhecer pessoalmente, tocar no teu corpo. E quem sabe...
– Eu fico meio envergonhada… Mas, dane-se o pudor, estou louca para fazer com você as
coisas mais loucas que puder...
– Que tal neste fim de semana, à tarde… a gente poderia ir a um barzinho...
– Eu topo!!!
– Me deixa o número do seu celular…
– Ah! É 9899...
– 9899... Mas este é o celular da minha esposa!!! É você, Joana???
– José?!!!!

Autor: Luiz Fernando Elias é cardiologista e, nas horas vagas, cronista.



.(Como leitores, ao iniciarmos a interação com o autor por meio
do texto, situamos a história no seguinte quadro: um homem e uma
mulher estão em um bate-papo de internet e, geralmente, como é
esperado nessa situação, comportam-se como dois desconhecidos.)

VIDE BULA

VIDE BULA

Há cerca de 10 anos publiquei este artigo no Jornal de Cajuru, num momento especial para o
país, quando o esquema colorido havia sido desmantelado, e havia grandes expectativas
quanto ao futuro político do Brasil.
Hoje aproveito para republicá-lo, como prévia para o Vide Bula II, que certamente trará novos
medicamentos, para quem sabe, desta vez, curar o paciente. Uma coisa é certa: este já não
está mais na UTI. Concordam?
O Brasil está doente. Êta frasezinha batida! Todo mundo está cansado de saber disso. O
diabo é: qual remédio?
Muito se tem tentado com drogas tradicionais, ou novidades, porém até agora nenhuma teve
o tão almejado efeito de curar este pobre enfermo.
Há bem pouco tempo foi tentada uma droga novíssima, quase não testada, mas que
prometia sucesso total, a “Collorcaína”, que, infelizmente, na prática de nada serviu, seus
efeitos colaterais extremamente deletérios (como a liberação da “Pecelidona”) quase acaba
com o doente.
Porém, para o ano que vem, novos medicamentos poderão ser usados. Enquanto isso não
acontece, o doente consegue se manter com doses de “Itamarina” que é uma espécie de
emplastro que, se não cura, também não mata.
Mas, voltando ao ano que vem, se é que podemos voltar ao futuro, vamos estudar os
possíveis medicamentos que teremos à disposição do moribundo.
A primeira droga a ser discutida já é uma antiga que estava em desuso e voltou com nova
embalagem e novas indicações, podendo ser eficaz no momento.
Trata-se da “Paumalufina”, extraída do pau-brasil com a propriedade de promover perda das
gorduras, principalmente estatais, acentuando a livre iniciativa. Tem como efeito colateral a
crise aguda de autoritarismo e também de perdularismo, sendo contra-indicada para as
democracias.
A segunda droga, também já testada, é derivada da “Pemedebona”, a “Orestequercina”, que
atua em praticamente todos os órgãos, que passam a funcionar somente às custas da
“Desoxidopropinainterferase”, que promove um desempenho muito mais fisiológico.
Esta droga tem como efeito colateral uma grande depleção das reservas, depleção esta que
pode ser fatal ao organismo.
Mais recentemente foi criada a “L.A. Fleurizina”. Derivada da “Orestequercina”, age de
maneira muito semelhante à mesma, sendo, entretanto, muito mais contundente e agressiva.
É formalmente contra-indicada para Carandirus e professores.
A terceira droga do nosso tratado é uma ainda não testada, mas já com fama de eficiência.
Trata-se do “Cloridrato de Lulalá”, derivada da “Estrelapetina”, e, como efeito, promete
revitalizar as células periféricas, tornando-as tão importantes quanto as do SNC ( Sistema
Nervoso Central).

É importante lembrar que a mesma pode causar imobilismo com liberação de seitas e
dissidências. Tais efeitos colaterais podem ser evitados com injeção na veia de
“antisectarina” e cápsulas de “Bonsensol”.
Ainda é bom lembrar que o uso de tal substância provoca uma cor avermelhada em todos os
órgãos.
A quarta droga que discutiremos é a “Tucanina Cacicóide”, na verdade, um complexo de
inúmeros componentes, como a “F.H.Cardozina”, a “Zesserrinitrina”, a “Mariocovase” e
muitas outras mais que são muito eficientes “In Vitro”, porém sem comprovação de efeito “In
Vivo”.
Seu maior efeito colateral é a interação de seus componentes que competem entre si,
causando uma síndrome chamada “encimamurismo”, síndrome esta extremamente deletéria
e que pode invibializar o uso de tal medicamento.
Existem ainda drogas menores como a “Brizolonina” que, quando aplicada, provoca intensa
verborragia e manias perseguitórias.
Há ainda a A.C. Malvadezina, uma droga extremamente tóxica que causa náuseas até em
quem aplica.
Terminando nosso estudo, esperamos que, desta vez, os médicos saibam o remédio certo
para salvar o doente


Autor: Luiz Fernando Elias é cardiologista e, nas horas vagas, cronista


(Esses fatores referem-se a conhecimento dos elementos
lingüísticos (uso de determinadas expressões, léxico antigo
etc.), esquemas cognitivos, bagagem cultural, circunstâncias em
que o texto foi produzido.)

Fui a Cachaçaria

Fui à Água Doce Cachaçaria e tomei uma cachaça da boa, mas tão boa que resolvi levar dez
garrafas para casa, mas Dona Patroa me obrigou a jogar tudo fora.
Peguei a primeira garrafa, bebi um copo e joguei o resto na pia.
Peguei a segunda garrafa, bebi outro copo e joguei o resto na pia.
Peguei a terceira garrafa, bebi o resto e joguei o copo na pia.
Peguei a quarta garrafa, bebi na pia e joguei o resto no copo.
Peguei o quinto copo, joguei a rolha na pia e bebi a garrafa.
Peguei a sexta pia, bebi a garrafa e joguei o copo no resto.
A sétima garrafa eu peguei no resto e bebi a pia.
Peguei no copo, bebi no resto e joguei a pia na oitava garrafa.
Joguei a nona pia no copo, peguei na garrafa e bebi o resto.
O décimo copo, eu peguei a garrafa no resto e me joguei na pia.
Não me lembro do que fiz com a Patroa!


(A orientação do autor é de outra natureza. Observemos: até a
quinta linha o texto progride sem “estranhamento”. Da sexta
linha em diante, a disposição dos termos na oração nos chama a
atenção por ser semanticamente inaceitável, segundo o nosso
conhecimento de mundo. Isso é uma pista importante para a
produção do sentido do texto, assinaladora da relação de
proporcionalidade: quanto mais o sujeito bebe, mais se embriaga;
quanto mais se embriaga, mais comete “incoerências” sintáticosemânticas)

Texto que está no Livro LER E COMPREENDER os sentidos do texto- Ingedore Villaça Koch

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Paciência - Arnaldo Jabor

Arnaldo Jabor


Ah! Se vendessem paciência nas farmácias e supermercados... Muita gente
iria gastar boa parte do salário nessa mercadoria tão rara hoje em dia.
Por muito pouco a madame que parece uma 'lady' solta palavrões e berros que
lembram as antigas 'trabalhadoras do cais'... E o bem comportado executivo?
O 'cavalheiro' se transforma numa 'besta selvagem' no trânsito que ele mesmo
ajuda a tumultuar...
Os filhos atrapalham, os idosos incomodam, a voz da vizinha é um tormento, o
jeito do chefe é demais para sua cabeça, a esposa virou uma chata, o marido
uma 'mala sem alça'. Aquela velha amiga uma 'alça sem mala', o emprego uma
tortura, a escola uma chatice.
O cinema se arrasta, o teatro nem pensar, até o passeio virou novela.
Outro dia, vi um jovem reclamando que o banco dele pela internet estava
demorando a dar o saldo, eu me lembrei da fila dos bancos e balancei a
cabeça, inconformado...
Vi uma moça abrindo um e-mail com um texto maravilhoso e ela deletou sem
sequer ler o título, dizendo que era longo demais.
Pobres de nós, meninos e meninas sem paciência, sem tempo para a vida, sem
tempo para Deus.
A paciência está em falta no mercado, e pelo jeito, a paciência sintética
dos calmantes está cada vez mais em alta.
Pergunte para alguém, que você saiba que é 'ansioso demais' onde ele quer
chegar?
Qual é a finalidade de sua vida?
Surpreenda-se com a falta de metas, com o vago de sua resposta.
E você?
Onde você quer chegar?
Está correndo tanto para quê?
Por quem?
Seu coração vai agüentar?
Se você morrer hoje de infarto agudo do miocárdio o mundo vai parar?
A empresa que você trabalha vai acabar?
As pessoas que você ama vão parar?
Será que você conseguiu ler até aqui?


Respire... Acalme-se...

O mundo está apenas na sua primeira volta e, com certeza, no final do dia
vai completar o seu giro ao redor do sol, com ou sem a sua paciência...



NÃO SOMOS SERES HUMANOS PASSANDO POR UMA EXPERIÊNCIA ESPIRITUAL...

SOMOS SERES ESPIRITUAIS PASSANDO POR UMA EXPERIÊNCIA HUMANA..

segunda-feira, 18 de abril de 2011