domingo, 4 de março de 2012

ALMAS GÊMEAS

ALMAS GÊMEAS

– Oi! Tudo bem?
– Tudo tranqüilo, e aí?
– Eu estava louca para conversar com você de novo, ontem nosso papo foi muito bom...
– É verdade, há um mês eu entrei no bate-papo meio por entrar e de repente...
– De repente?
– De repente, encontro uma Maria, com a qual sonhei a vida inteira.
– Verdade mesmo? Você está falando sério?
– Falando sério? Você nem imagina quanto! Nas nossas conversas rápidas, eu senti assim
uma premonição de que ali estava, finalmente, a minha alma gêmea.
– Agora você me deixou emocionada... Mas, na verdade, eu também senti uma coisa meio
diferente e hoje mais ainda, neste nosso início de bate-papo. Sabe de uma coisa, João? Até
parece que eu te conheço de uma vida inteira.
– E eu, Maria? Desde outras vidas, tamanha é a afinidade que eu sinto por você.
– Que bonito, João. Assim é covardia, esta batalha você ganhou.
– Ganhei nada, sou desde já refém da sua simpatia, seu jeito, sua forma de expressar...
– Obrigada, João.
– Nem agradeça, Maria. Vamos conversar mais, quero saber tudo de você. Quem é você?
– Adivinha, se gostas de mim...
– Quem é você, minha misteriosa?
– Eu sou Colombina.
– Eu sou Pierrot. Mas nem é carnaval, nem meu tempo passou. Bom, pelo menos depois de
você.
– É verdade, João. Deixando a música de lado, eu que já não sou tão menina, apesar de
estar me sentindo assim, quero que você saiba que a minha vida estava muito chata, muito
monótona até que o destino te colocou neste diálogo meio louco, meio mágico...
– Vamos fazer o jogo da verdade, Maria? Eu sou João, ou outro nome qualquer, tenho 45
anos, casado há muito tempo, sem filhos. Meu casamento entrou numa rotina...
– Eu também, João, estou casada há muito tempo, também sem filhos, achando que era
feliz, até te descobrir, e, principalmente, descobrir que estou viva. Apesar de também ter
passado dos quarenta, estou me sentindo uma colegial, diante das primeiras emoções.
– A minha esposa é boazinha, mas não tem a mínima imaginação, nem a tua sensibilidade.
Jamais seria capaz de um diálogo deste nível.
– O meu marido é honesto, trabalhador, mas é um tremendo cretino, só pensa em futebol.
– Eu até gosto de futebol, mas não sou muito fanático. A minha mulher só quer saber
daquelas novelas chatas, sempre do mesmo jeito.
– Eu quase que nem assisto novelas, prefiro ler e conversar. Com pessoas como você, é
claro!
– Pois é… este papo de internauta é gostoso, mas já não me satisfaz plenamente. Eu quero
te conhecer pessoalmente, tocar no teu corpo. E quem sabe...
– Eu fico meio envergonhada… Mas, dane-se o pudor, estou louca para fazer com você as
coisas mais loucas que puder...
– Que tal neste fim de semana, à tarde… a gente poderia ir a um barzinho...
– Eu topo!!!
– Me deixa o número do seu celular…
– Ah! É 9899...
– 9899... Mas este é o celular da minha esposa!!! É você, Joana???
– José?!!!!

Autor: Luiz Fernando Elias é cardiologista e, nas horas vagas, cronista.



.(Como leitores, ao iniciarmos a interação com o autor por meio
do texto, situamos a história no seguinte quadro: um homem e uma
mulher estão em um bate-papo de internet e, geralmente, como é
esperado nessa situação, comportam-se como dois desconhecidos.)

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