domingo, 4 de março de 2012

VIDE BULA

VIDE BULA

Há cerca de 10 anos publiquei este artigo no Jornal de Cajuru, num momento especial para o
país, quando o esquema colorido havia sido desmantelado, e havia grandes expectativas
quanto ao futuro político do Brasil.
Hoje aproveito para republicá-lo, como prévia para o Vide Bula II, que certamente trará novos
medicamentos, para quem sabe, desta vez, curar o paciente. Uma coisa é certa: este já não
está mais na UTI. Concordam?
O Brasil está doente. Êta frasezinha batida! Todo mundo está cansado de saber disso. O
diabo é: qual remédio?
Muito se tem tentado com drogas tradicionais, ou novidades, porém até agora nenhuma teve
o tão almejado efeito de curar este pobre enfermo.
Há bem pouco tempo foi tentada uma droga novíssima, quase não testada, mas que
prometia sucesso total, a “Collorcaína”, que, infelizmente, na prática de nada serviu, seus
efeitos colaterais extremamente deletérios (como a liberação da “Pecelidona”) quase acaba
com o doente.
Porém, para o ano que vem, novos medicamentos poderão ser usados. Enquanto isso não
acontece, o doente consegue se manter com doses de “Itamarina” que é uma espécie de
emplastro que, se não cura, também não mata.
Mas, voltando ao ano que vem, se é que podemos voltar ao futuro, vamos estudar os
possíveis medicamentos que teremos à disposição do moribundo.
A primeira droga a ser discutida já é uma antiga que estava em desuso e voltou com nova
embalagem e novas indicações, podendo ser eficaz no momento.
Trata-se da “Paumalufina”, extraída do pau-brasil com a propriedade de promover perda das
gorduras, principalmente estatais, acentuando a livre iniciativa. Tem como efeito colateral a
crise aguda de autoritarismo e também de perdularismo, sendo contra-indicada para as
democracias.
A segunda droga, também já testada, é derivada da “Pemedebona”, a “Orestequercina”, que
atua em praticamente todos os órgãos, que passam a funcionar somente às custas da
“Desoxidopropinainterferase”, que promove um desempenho muito mais fisiológico.
Esta droga tem como efeito colateral uma grande depleção das reservas, depleção esta que
pode ser fatal ao organismo.
Mais recentemente foi criada a “L.A. Fleurizina”. Derivada da “Orestequercina”, age de
maneira muito semelhante à mesma, sendo, entretanto, muito mais contundente e agressiva.
É formalmente contra-indicada para Carandirus e professores.
A terceira droga do nosso tratado é uma ainda não testada, mas já com fama de eficiência.
Trata-se do “Cloridrato de Lulalá”, derivada da “Estrelapetina”, e, como efeito, promete
revitalizar as células periféricas, tornando-as tão importantes quanto as do SNC ( Sistema
Nervoso Central).

É importante lembrar que a mesma pode causar imobilismo com liberação de seitas e
dissidências. Tais efeitos colaterais podem ser evitados com injeção na veia de
“antisectarina” e cápsulas de “Bonsensol”.
Ainda é bom lembrar que o uso de tal substância provoca uma cor avermelhada em todos os
órgãos.
A quarta droga que discutiremos é a “Tucanina Cacicóide”, na verdade, um complexo de
inúmeros componentes, como a “F.H.Cardozina”, a “Zesserrinitrina”, a “Mariocovase” e
muitas outras mais que são muito eficientes “In Vitro”, porém sem comprovação de efeito “In
Vivo”.
Seu maior efeito colateral é a interação de seus componentes que competem entre si,
causando uma síndrome chamada “encimamurismo”, síndrome esta extremamente deletéria
e que pode invibializar o uso de tal medicamento.
Existem ainda drogas menores como a “Brizolonina” que, quando aplicada, provoca intensa
verborragia e manias perseguitórias.
Há ainda a A.C. Malvadezina, uma droga extremamente tóxica que causa náuseas até em
quem aplica.
Terminando nosso estudo, esperamos que, desta vez, os médicos saibam o remédio certo
para salvar o doente


Autor: Luiz Fernando Elias é cardiologista e, nas horas vagas, cronista


(Esses fatores referem-se a conhecimento dos elementos
lingüísticos (uso de determinadas expressões, léxico antigo
etc.), esquemas cognitivos, bagagem cultural, circunstâncias em
que o texto foi produzido.)

Um comentário:

  1. Adorei o texto, como uma escrita fala do seu personagem, já havia lido anteriormente, e logo percebi que se tratava de um especialista da área cardíaca, como uma escrita tem da nossa bagagem cultural, circunstâncias em que o texto foi produzido. Aguardando a nova bula 👏🏼👏🏼🥰

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