sábado, 25 de julho de 2009

PENSAMENTOS REBELDES

PENSAMENTOS REBELDES
>
> Por Ana Kessler e Rose Santiago
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> São 7h.
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> O despertador canta de galo e eu não tenho forças nem para atirá-lo contra
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> a parede. Estou TÃO acabada, não queria ter que trabalhar hoje.
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> Quero ficar em casa, cozinhando, ouvindo música, cantarolando, até.
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> Se tivesse filhos, gastaria a manhã brincando com eles . Se tivesse
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> cachorro, passeando pelas redondezas. Aquário? Olhando os peixinhos
> nadarem.
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> Espaço? Fazendo alongamento. Leite condensado? Brigadeiro.
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> Tudo menos sair da cama, engatar uma primeira e colocar o cérebro pra
> funcionar.
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> Gostaria de saber quem foi a mentecapta, a matriz das feministas
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> que teve a infeliz idéia de reivindicar direitos à mulher e por quê ela
> fez
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> isso conosco, que nascemos depois dela.
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> Estava tudo tão bom no tempo das nossas avós, elas passavam o dia a
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> bordar, a trocar receitas com as amigas, ensinando-se mutuamente segredos
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> de molhos e temperos, de remédios caseiros, lendo bons livros das
> bibliotecas
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> dos maridos, decorando a casa, podando árvores, plantando flores,
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> colhendo legumes das hortas, educando crianças, freqüentando saraus, a
> vida
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> era um grande curso de artes, medicina alternativa e culinária.
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> Aí vem uma "fulaninha" qualquer que não gostava de sutiã tampouco
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> de espartilho, e contamina várias outras rebeldes inconseqüentes com
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> idéias mirabolantes sobre "vamos conquistar o nosso espaço".
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> Que espaço, minha filha? Você já tinha a casa inteira, o bairro
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> todo, o mundo ao seus pés.
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> Detinha o domínio completo sobre os homens, eles dependiam de você
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> para comer, vestir, e se exibir para os amigos, que raio de direitos
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> requerer?
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> Agora eles estão aí, todos confusos, não sabem mais que papéis
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> desempenhar na sociedade, fugindo de nós como o diabo da cruz. Essa
> brincadeira
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> de vocês acabou é nos enchendo de deveres, isso sim.
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> antigamente, os casamentos duravam para sempre, tripla jornada era
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> coisa do Bernard do vôlei - e olhe lá, porque naquela época não existia
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> Bernard e, se duvidar, nem vôlei.
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> Por quê, me digam por quê um sexo que tinha tudo do bom e do
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> melhor, que só precisava ser frágil, foi se meter a competir com o
> macharedo?
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> Olha o tamanho do bíceps deles, e olha o tamanho do nosso.
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> Tava na cara que isso não ia dar certo.
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> Não agüento mais ser obrigada ao ritual diário de fazer escova,
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> maquiar, passar hidratantes, escolher que roupa vestir, que sapatos,
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> acessórios, que perfume combina com o meu humor, nem de ter que sair
> correndo,
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> ficar engarrafada, correr risco de ser assaltada, de morrer atropelada,
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> passar o dia ereta na frente do computador, com o telefone no ouvido,
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> resolvendo problemas.
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> Somos fiscalizadas e cobradas por nós mesmas a estar sempre em
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> forma, sem estrias, depiladas, sorridentes, cheirosas, unhas feitas, sem
> falar
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> no currículo impecável, recheado de mestrados, doutorados, e
> especializações.
>
> Viramos super mulheres, continuamos a ganhar menos do que eles.
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> Não era muito melhor ter ficado fazendo tricô na cadeira de balanço?
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> Chega, eu quero alguém que pague as minhas contas, abra a porta
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> para eu passar, puxe a cadeira para eu sentar, me mande flores com cartões
>
> cheios de poesia, faça serenatas na minha janela - ai, meu Deus, 7h30,
>
> tenho que levantar!
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> E tem mais, que chegue do trabalho, sente no sofá, coloque os pés
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> pra cima e diga "meu bem, me traz uma dose de whisky, por favor?",
> descobri
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> que nasci pra servir.
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> Cês pensam que eu tô ironizando? Tô falando sério!
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> Estou abdicando do meu posto de mulher moderna... Troco pelo de Amélia.
>
> Alguém se habilita?

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